quinta-feira, 29 de julho de 2010

... e de novo então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim, eu digerindo faminto o que o teu corpo rejeita, bebendo teu mágico veneno porco que me ilumina e anoitece a cada dia, e passo a passo afundo nesse charco que não sei se é o grande conhecimento de nós ou o imenso engano de ti e de mim.


(Caio F. Abreu - A beira do mar aberto)

3 comentários:

  1. .

    Que legal ver meus posts por aqui, até as imagens que criei. rsrs

    Para esclarecer melhor, posto o título dos contos ao lado do autor, não o título dos livros, exceto "Limite branco" e "Onde andará Dulce Veiga?", que não são livros de contos nem crônicas, são romances.

    .
    .

    ResponderExcluir
  2. Eu adoro esse trecho de Caio. E parabéns pelo Blog,é realmente lindo.

    um beijo

    ResponderExcluir