terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
BENDITAS
Benditas coisas que eu não seiOs lugares onde não fuiOs gostos que não proveiMeus verdes ainda não madurosOs espaços que ainda procuroOs amores que eu nunca encontreiBenditas coisas que não sejam benditasA vida é curtaMas enquanto duraPosso durante um minuto ou maisTe beijar pra sempre o amor não mente, nãomente jamaisE desconhece do relógio o velho futuroO tempo escorre num piscar de olhosE dura muito além dos nossos sonhos mais purosBom é não saber o quanto a vida duraOu se estarei aqui na primavera futuraPosso brincar de eternidade agoraSem culpa nenhuma.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Sigo esvaziando garrafas à espera dos passos. posso senti-la no ar, posso senti-la na ponta dos dedos, posso ver calçadas construídas para seus pés caminharem, posso ver travesseiros para sua cabeça, posso sentir a expectativa da minha risada, posso vê-la acariciando um gato, posso vê-la dormir, posso ver seus chinelos no chão. pequenas gotas de você pingando na poeira. sei que alguma noite em algum quarto logo meus dedos abrirão caminho através de cabelos limpos e macios. quando me penso morto penso em fazer amor com você quando não estou por perto. é tudo tão confortável — esse fazer amor, esse dormir juntos, a suave delicadeza… outra cama outra mulher mais cortinas, outro banheiro outra cozinha outros olhos outro cabelo outros pés e dedos. essas orelhas esses braços esses cotovelos esses olhos olhando, o afeto e a carência me sustentaram. sou um bom cozinheiro, um bom ouvinte, mas nunca aprendi a dançar. me sinto bem melhor agora. dediquei-me ao sapateado e as palavras difíceis que sempre tive medo de dizer podem agora ser ditas: eu te amo como um homem ama uma mulher que jamais tocou, para quem apenas escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia ter te amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala enrolando um cigarro e ouvindo você mijar no banheiro. mando a cerveja goela abaixo, peço uma bebida forte rápido para adquirir a garra e o amor de continuar. eu sairei e esperarei por você.
Charles Bukowski
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